sexta-feira, 27 de junho de 2008

A IGREJA DO DIABO - parte I


Aconteceu em um dos mais pobres bairros da cidade de Cáceres no Mato Grosso por volta do ano de 2007. As pessoas que povoaram o bairro eram, na sua maioria, pessoas pobres advindas de diversas partes da cidade onde não conseguiram o seu espaço em outras épocas. Os terrenos, aos poucos foram sendo ocupados. Em pouco tempo havia uma pequena cidade onde antes era só mato. Casas de madeira, papelão e folhas de bacuri faziam à comunidade daquele bairro.

Assim, aos poucos foram surgindo pequenos comércios, vendas e botecos que vendiam produtos para a comunidade do bairro. Os botecos, por sua vez, ficavam lotados de cachaceiros e vagabundos que não gostavam de trabalhar. Com o tempo e a consolidação do bairro, marginais e fugitivos da prisão buscavam refugio naquele lugar. Meninas de menores se envolviam na prostituição e os viciados em drogas também encontravam espaço para utilizar os seus produtos na maior liberdade uma vez que a polícia raramente passava por lá.

Mas no bairro também tinham coisas boas como pessoas de bem. Essas pessoas apenas não haviam tido sorte na vida e sofriam com esse caos que se instalou nesse local esquecido por Deus e pelas autoridades. Foi então que aconteceu o fato.

No bairro se instalou várias igrejas protestantes. Assembléia de Deus, Congregação Cristã no Brasil, Adventista, Deus é Amor, entre outras. Também uma comunidade da Igreja Católica se fazia presente no bairro. Curiosamente, no centro do bairro um lote de grande proporção se mantinha intocado. Nada no lote era construído. A curiosidade tomava conta das pessoas ao ver aquele lote vazio e que ninguém tinha coragem de tocar.

O tempo passou e algumas casas grandes e bem feitas surgiram ao lado do lote. O bairro continuava um caos e com o passar dos tempos ia ficando cada vez pior. A polícia, de vez enquanto fazia uma ronda por lá. Ladrões de motos haviam se instalado lá e depenava moto adoidado. Assassinatos aconteciam toda semana. Foi construído um salão de dança que todas sextas e sábados abria suas portas para a diversão do povão. Mas quase toda semana morria um ou dois esfaqueado, baleado e envenenado. O lugar ficou conhecido como “salão do defunto”.

Numa sexta-feira 13 bem de manhã apareceu uns caminhões pretos com materiais de construção e começou a transportar materiais para o lote. As pessoas ficaram curiosas. Vieram uns homens, que também usavam roupas pretas e começaram uma construção. Trabalhavam todos os dias até altas horas da noite. Em poucos dias foi erguida uma enorme construção no centro do bairro. Era imponente a construção. Chamava a atenção de longe. A curiosidade do povo aumentava cada dia.

A construção era diferente de tudo que as pessoas haviam visto na cidade. Alguns nunca tinham visto algo daquele jeito. Era redonda e preta. Os vitrôs tinham uns desenhos nebulosos e figuras de anjos. Aos poucos a população e os curiosos da cidade identificaram a construção como sendo uma igreja.

Depois de terminada a construção os homens foram embora e o lugar ficou vazio durante alguns dias. Numa sexta-feira fazia um dia atípico para o clima cacerense. Nuvens cobriam o céu da cidade de Cáceres e o tempo estava bastante ameno. Não fazia frio mas também não estava aquele calorão da cidade. A temperatura rondava os 20 graus e as pessoas se aproveitavam esse dia. Era por volta das 10 horas da manhã quando chegaram alguns furgões pretos e parou na igreja. Jovens desceram e começaram a distribuir folhetos que convidavam as pessoas para a inauguração da igreja. Eram rapazes e moças bem bonitos e elegantes. De forma bem simpática eles entregavam o folheto e convidavam as pessoas para a grande inauguração da igreja naquela noite.

O que surpreendeu a população foi o convite. Alguns jogavam o convite assim que via a ilustração. Outros faziam o sinal da cruz. No convite tinha um desenho de um anjo brilhante e os seguintes dizeres:

“Temos a honra de convidá-lo para a inauguração da igreja que anuncia uma nova ideologia de vida. Se você tem um problema e precisa de solução apresentamos essa solução. Nesta sexta-feira inaugura neste local a IGREJA DO DIABO” sejam bem-vindos.

Os acontecimentos que se seguiram aquele convite são indescritíveis.

texto: Odair José.

terça-feira, 24 de junho de 2008

O SOL QUE BRILHA PARA OS XAVANTES


"O resultado é que os que se dedicam a ler a história ficam limitados à satisfação de ver desfilar os acontecimentos sob os olhos sem procurar imitá-los, julgando tal imitação mais do que difícil, impossível. Como se o sol, o céu, os homens e os elementos não fossem os mesmos de outrora; como se a sua ordem, seu rumo e seu poder tivessem sido alterados".
(Maquiavel - Discursos)

"No início dos anos 40, o Araguaia e seus afluentes, (um deles o Rio das Mortes que passa em Nova Xavantina) eram a última barreira natural ao progresso civilizatório que massacrava índios desde o descobrimento". Esse pequeno fragmento diz respeito a "Marcha para o Oeste" expedição organizada pelo governo federal para ocupar áreas "desabitadas" dos rincões do Brasil no final dos anos 40. Enquanto a Europa "civilizada" se engalfinhavam em disputas militares e se matavam na Segunda Guerra Mundial, os desbravadores "civilizados" do Brasil adentravam o norte do País em busca de levar o "progresso" para esse interior um tanto desocupado.
O meu texto é um misto de indignação e surpresa. Indignação porque sou revoltado com tamanha mediocridade que perpassa os homens ao longo da história da humanidade. Em nome do "progresso" e desenvolvimento eles massacram e destroem culturas inteiras. Surpresa porque, mesmo os que detêm o poder e o conhecimento, na maioria das vezes, preferem continuar no marasmo do que fazer alguma coisa para mudar as situações.
Nova Xavantina nasceu à sombra da Expedição Roncador-Xingu. Tem hoje mais de 20 mil habitantes (segundo discurso local, há pouco mais de 60 anos era "só mato"). Acontece que, antes da Expedição existia, neste local, uma cultura e seres humanos semelhantes a nós que ocupavam, sustentavelmente, essas terras. Hoje, boa parte desse povo vivem as margens dessa sociedade "civilizada". São pedintes nas portas de comércios locais. Discriminados, andam como zumbis pelas ruas da cidade sem terem uma identidade própria. Não são Xavantes e não são xavantinenses.
Os acontecimentos desfilam sob os nossos olhos. As ruas da cidade são homenageadas com nomes dos grandes "heróis" que desbravaram a região trazendo "progresso" e a "civilização", enquanto que os nativos são expostos ao ridículo de amanhecerem às portas de panificadoras na esperança de ganhar uma sobra de alguma coisa.
O sol que brilhava para os Xavantes a pouco mais de 60 anos é o mesmo nos dias de hoje. A situação deles, no entanto, é bem diferente. Sua cultura foi prejudicada em nome de um "progresso" que elevam uns ao patamar de senhores e outros a submissão de servos.
Esse é apenas o primeiro ensaio de uma série de textos que estarei problematizando neste espaço. Leio a história e não pretendo ver o desfile dos acontecimentos e, mesmo assim, cruzar os braços.

Texto: Odair José.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

SONHO?


Sonhava com alguém que me fizesse sentir isso;
Sonhava que isso fosse grande mas não esperava tanto;
Sonhava com você mas não sabia que ainda tinha que te conhecer pra aprender a sentir isso;
Sonhava mas eram sonhos vazios a procura disso, de uma coisa que estava faltando pra que eu pudesse ser feliz;
Sonhava não errar se fosse sentir isso e você esta me ajudando há só acertar cada dia mais;
Sonhava em aprender como se sente isso e olha só entrei em um relacionamento que pra mim é como uma escola;
Sonhava com uma pessoa que já existia mas quando descobri, ela está um pouquinho longe;
Sonho em não sofrer com a distância e às vezes até que é possível porque o que sinto é tão intenso que te sinto ao meu lado;
Sonho com seu perfume e chego até sentir a fragrância exalada pela sua pele que me faz sonhar mais e mais com você
Sonho tanto que isso que você esta me fazendo sentir começa a receber um nome;
Sonhei com gostar mas achei fraco demais;
Sonhei com paixão mas ainda não é;
Sonhando pensei no que você me faz sentir, quase pirei tentando chegar a uma conclusão;
Sonhar?, Chega, né. Você é bem mais real do que tudo que já tive e senti antes;
Sonhei sim mas o sonho acabou porque se tornou realidade depois que isso recebeu o nome de amor...

terça-feira, 17 de junho de 2008


Fui questionado hoje por alguém que disse que sou um ateu por que discordei do seu pensamento. Então me perguntei o porquê sou um ateu?
Continuo crendo em Deus da mesma forma que sempre cri. Só por que não estou na igreja não quer dizer que me tornei um ateu. Tenho visões de doutrina que são diferentes e, hoje, ainda mais por que leio livros que, segundo alguns na igreja, são inspiração do diabo como por exemplo, os livros do Marquês de Sade e do Nietzsche. Declaro para os devidos fins que não me abalam a minha fé... De forma nenhuma...
Afinal, o que é a fé?
A fé é o dedo de Deus apontando uma rua escondida em neblina. A fé é que me ajuda na procura de novos olhares onde pessoas me dizem que não posso olhar... Por que não posso?

Texto: Odair José.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

FIM DOS TEMPOS


Mas uma vez o homem desenvolve uma simulação do fim do mundo ou das pessoas. Ao longo da humanidade vemos com freqüência essa idéia de fim do mundo permear o imaginário das pessoas. Quando eu era pequeno lembro-me de passar noites sem dormir com o medo do fim do mundo. As ideologias bíblicas propagadas nas igrejas com a ênfase do iminente retorno de Cristo e o fim do mundo causava pesadelos em pecadores como eu. Não que eu duvide hoje de que um dia possa acontecer o Armagedon.
No entanto o medo já não perpassa o meu espírito como antes. Durante a proximidade do ano 1000, a Europa foi invadida pelo temor do fim do mundo. As pessoas vendiam suas propriedades e as entregavam nas igrejas e ao clero. Pra que ter oa bens materiais se o mundo vai acabar mesmo? No auge da Idade Média e das ideologias apocalípticas os homens sentiam o medo da morte e do inferno. Passou-se o ano 1000 e o mundo não acabou.
De 1000 passou mas de 2000 não passará. Essa foi a frase que percorreu o mundo por mais de 900 anos. Com a proximidade do ano 2000, o tema do fim do mundo ganhou conotações castatróficas inimagináveis. O pesadelo do fim do mundo outra vez bateu as portas das pessoas. Em uma sociedade mais avançada cientificamente o medo permaneceu intacto como na sociedade medieval. Filmes, pregações, livros e profecias anunciavam o fim do mundo. O bug do Milênio foi o ápice do caos instalado nessa nova sociedade.
Creio que o medo do fim do mundo não é o que devemos ter. Se cremos em um mundo novo e em novas esperanças devemos ser justos com a nossa consciência.
Escrevo esse texto para citar a minha impressão ao ver o pôster de anúncio do filme "Fim dos Tempos" que extréia hoje em circuito nacional. Mas uma vez os homens desenham e imaginam uma forma de exterminar a si mesmo...

Texto: Odair José.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O BUGRE CACERENSE


Um dos temas que merece bastante atenção sobre a sociedade cacerense é a questão do bugre.
O "Bugre" é uma presença marcante na cidade e até mesmo fora dela. Pena que seja usado, na grande maioria das vezes, pejorativamente. O termo refere-se aos descendentes dos povos que habitavam a região. O bugre é um tipo único que vive na região da grande Cáceres.
Com as migrações dos anos 40 aos 60, as pessoas que vieram do Paraná, São Paulo, Minas Gerais e outros estados brasileiros adotaram uma postura de superioridade com relação aos bugres. O bugre passou a ser ainda mais desvalorizado e exposto ao preconceito e racismo.
Mas quem é o bugre?
Várias são as definições que se dão ao bugre. Em um texto muito bem problematizado, Luis Augusto de Mola Guisard faz um estudo comparado e nos apresenta algumas respostas para essa pergunta. Segundo o autor "a sociedade cacerense relaciona o termo em uso corrente com a idéia de infidelidade social, identificando o bugre com aquele que é da fronteira, que possui características indígenas, vagabundos, enfim, aquele que não se coaduma com o ideário produtivista, que vem substituir a visão estritamente religiosa da Idade Média, preservando, porém, sua função moral de justificar a exclusão social do bugre".
Em sentido geral, para um melhor aprofundamento, aconselho lerem o texto na íntegra.

http://www.scielo.br/pdf/spp/v13n4/v13n4a09.pdf


Texto: Odair.

terça-feira, 3 de junho de 2008

RENÚNCIA


Escrever é uma arte que remonta o início das civilizações. Os egípcios, por exemplo, achavam interessante escrever nos papiros, nos túmulos e paredes daquela época na esperança de deixar algum registro. Essa prática dos escribas egípcios foi importante para que, hoje, os historiadores tivesse como problematizar acontecimentos do passado. O exemplo dos escribas do Antigo Egito é só um exemplo de centenas que poderíamos usar como referência para esse artigo.
No entanto, a minha intenção aqui é falar de mim mesmo. Eu adoro escrever. Gosto de ver as palavras saindo da minha mente e se juntando na tela do computador onde digito o meu texto. Falo hoje de renúncia.
Aquela renúncia que tomamos na vida quando precisamos deixar de viver a nossa vida em prol de alguém. E por que fazemos isso? Fazemos porque, de certo modo, a pessoa a quem renunciamos, no fundo, é a nossa vida. Paradoxo? Pode ser. Mas é um paradoxo compreensivo.
Renucio a mim mesmo para viver essa vida. Preciso disso. Sinto-me livre ao tomar tal atitude. Nunca fui de ser conduzido. Gosto de ouvir diversos conselhos e opiniões, mas gosto de tomar as minhas decisões. É isso que faço. Claro que já dei muitas cabeçadas na vida. Mas quem não deu? O importante em tudo isso é que sempre tomei as minhas decisões.
Esse texto pode não ter a importância de um hierógrifo egípcio, mas tem a revelação de um coração e isso pode fazer a diferença em um futuro breve.
Por hoje é isso!!!

Texto: Odair José.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

A Farra dos Novos Municípios de Mato Grosso!!!


Ministrando aulas de Geografia para meus alunos me deparei com um fato alarmante que vale a pena um destaque nessa página.
A farra dos novos municípios no Estado de Mato Grosso. Isto porque, segundo um dos artigos da Legislação da Assembléia Legislativa para criação de novos municípios estabelece que necessita-se alguns requisitos mínimos para emancipação um mínimo de 4 mil habitantes, sendo que 20% desses devem ser eleitores...
Acontece que, na minha contagem, cerca de 20% dos municípios de Mato Grosso, principalmente os mais novos, não tem 4 mil habitantes. Existem alguns que não tem nem 2 mil. Isto é um absurdo!
Ai entra uma questão importantíssima. Porque isso acontece? Interesses político partidários ou interesses das populações locais na criação de novos municípios? Deduzo que há os dois. Alguns espertinhos que não conseguem abocanhar o osso no município de origem, no novo pode usufluir do filão. Mas quem paga a conta quando o município não tem recursos próprios? Não é o Estado? No final das contas não somos nós mesmos?
É preciso que cada um de nós acompanhe esses trâmites na Assembléia Legislativa.

Texto: Odair José.