segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Como ensinar Nietzsche em sala de aula?


O que faz uma boa aula? Como não se tornar um professor chato nas suas aulas? E como dar uma aula show? São perguntas que perpassavam minha mente enquanto o diretor da escola explicava a importância de se dar uma boa aula para cativar os seus alunos. Na teoria parece fácil e motivador. Afinal, quem não quer dar uma aula inesquecível? Que professor não quer cativar os seus alunos e prenderem a sua mente para que eles tenham um bom aprendizado? Acontece que na prática, isso na maioria das vezes não é possível. E aí, sabemos que vários fatores contribuem para o insucesso do profissional diante da prática pedagógica. Mas, esse não será o nosso enfoque neste trabalho e sim como desenvolver uma boa aula para os nossos alunos. Neste sentido, busco orientação em Nietzsche como educador. Sim. O filósofo da filosofia a golpe de martelos, aquele que decretou a “morte de Deus” foi um exímio educador e nos deixou um grande legado para desenvolver uma boa aula.

Pois bem, mas quais são as principais idéias de Nietzsche sobre a educação? Após ler algumas obras desse filósofo, sua biografia e métodos utilizados em sala de aula eu posso pontuar algumas idéias que coloco em prática nas minhas aulas e outras que pretendo adotar para um ensino mais produtivo e eficaz.

Um dos conselhos de Nietzsche é que, o educador, deve ouvir atentamente cada um dos seus alunos. Isso é algo relativamente difícil no nosso ambiente. Normalmente o professor acha que tem o domínio do conteúdo e é dono do saber e não dá espaço para seus alunos se expressarem. Ainda há aqueles que acham que se o aluno falar em sala de aula está fazendo bagunça. Há, ainda, os defensores de uma educação pautada na doutrinação total dos alunos. Rebanho. O que o filósofo nos ajuda a desconstruir. Então, como colocar em prática essa ideia? Eu compartilho do pensamento de que devo ouvir os meus alunos. E, quando os ouço, aprendo tanta coisa com eles que fico admirado. Eles têm um mundo de informação e conhecimento que nos surpreende. Outros revelam-nos suas preocupações e ansiedades e, em alguns casos, até mesmo relações afetivas que sofrem no meio familiar. Tudo isso é importante para o educador que está disposto há mudar um pouco suas táticas educativas.

Outra lição que aprendo com Nietzsche e coloco em prática nas minhas aulas é o fato de fazer nascerem nos alunos às idéias. Sim. Isso é muito significativo na medida em que cada um dos alunos traz em si um mundo diferente do outro. E a partir da instigação das idéias cada um apresenta um arcabouço de novas idéias nas quais eu posso estar trabalhando. Aprendi que devo planejar as minhas aulas, mas devo, também, estar preparado para as novidades que surgem em cada uma dessas aulas. A partir do momento em que me abro para essa questão às coisas tendem a melhorar. A relação com eles tornam-se mais profícua e interessante. No universo de uma sala de aula temos diferentes pessoas vindas de diferentes contextos sociais e trazem consigo experiências únicas. Então, porque não trabalhar essas diferenças?

Outra lição importante que aprendi com Nietzsche e que costumo colocar nas minhas práticas em sala de aula é que cada um desenvolva o respeito pelas grandes figuras do passado. Isso não é uma tarefa fácil. Normalmente eles não estão abertos a conhecerem o passado. Querem novidades. Mas, apresento a eles a noção de que nenhuma civilização que se preze menospreza o seu passado. E ai tem um detalhe. Não é engrandecer ou exaltar essas figuras, mas sim admirá-las pelo seu legado e determinação em fazer do mundo um lugar melhor. A partir de uma busca nos meios de informações, cada aluno procura escolher uma grande figura do passado que se encaixa naquele ideal de vida que ele deseja para a sua vida. Isso é importante para que ele possa saber que cada um de nós temos uma história e que essa história está sendo escrita continuamente. Mas, ao fazer isso, tenho que levá-los ao próximo estágio.

Aprender a derrubar ídolos. Esse é o próximo passo na descoberta pelo saber. Os ídolos construídos ao longo dos tempos e os ídolos contemporâneos devem ser derrubados, estilhaçados e contestados. Lógico que essa contestação deve ser pensada estrategicamente. Não é uma violação da ordem estabelecida, mas, uma inquietação diante das crenças estabelecidas e impostas, seja pela mídia, seja pelas ideologias dominantes. Derrubar ídolos significa serem capazes de violar de qualquer forma as crenças que se tornaram tradição. Questionar o que está estabelecido enquanto verdade absoluta. Examinar o mundo a nossa volta. A sociedade em que estamos inseridos. Tudo isso é uma forma de libertação.

Por último em minha análise a respeito de uma educação libertária e produtiva está o fato de que o estudante deve sempre buscar além daquilo que o professor expõe em sala de aula. Procuro incentivá-los a ir além da sala de aula. Em alguns casos, utilizo-me do próprio espaço escolar para que eles façam suas descobertas. Por exemplo, vou falar sobre Descartes e o método cartesiano. Hoje eu não preciso pedir para pesquisarem em casa. Dentro da sala de aula mesmo, a maioria deles podem pesquisar na internet do celular. A aula torna-se mais produtiva e interessante. Além disso, procuro sempre inculcar-lhes a necessidade de se pesquisarem outras fontes. Gosto muito de pedir que encontre as idéias daquele filósofo estudado em jogos, games, filmes, músicas, poemas, etc. ao fazer isso, eu os instigo a ir além daquilo que ensinei em sala de aula. E, surpreendentemente, às vezes, eles sabem mais do que a gente.


A sala de aula é um desafio constante. É uma tarefa árdua e cansativa. Mas, a partir do momento em que faço isso com alegria e dedicação, as minhas aulas tornam-se melhores. Com Nietzsche eu aprendi algumas lições e as utilizo em sala de aula com sucesso. Mas, é importante salientar que o educador deve estar sempre pronto a aprender e ter novas experiências. E, ao fazer isso, há uma satisfação na prática pedagógica que é fundamental para o nosso crescimento intelectual. Deixar o legado de alguém que procurou fazer algo para despertar nos seus alunos maneiras diferentes de pensar o mundo a sua volta. Não há maior alegria do que ver o brilho nos olhos de seus alunos quando eles trazem as novidades que conseguiram descobrir a partir de suas aulas.

Texto: Odair José, o Poeta Cacerense