terça-feira, 24 de junho de 2008

O SOL QUE BRILHA PARA OS XAVANTES


"O resultado é que os que se dedicam a ler a história ficam limitados à satisfação de ver desfilar os acontecimentos sob os olhos sem procurar imitá-los, julgando tal imitação mais do que difícil, impossível. Como se o sol, o céu, os homens e os elementos não fossem os mesmos de outrora; como se a sua ordem, seu rumo e seu poder tivessem sido alterados".
(Maquiavel - Discursos)

"No início dos anos 40, o Araguaia e seus afluentes, (um deles o Rio das Mortes que passa em Nova Xavantina) eram a última barreira natural ao progresso civilizatório que massacrava índios desde o descobrimento". Esse pequeno fragmento diz respeito a "Marcha para o Oeste" expedição organizada pelo governo federal para ocupar áreas "desabitadas" dos rincões do Brasil no final dos anos 40. Enquanto a Europa "civilizada" se engalfinhavam em disputas militares e se matavam na Segunda Guerra Mundial, os desbravadores "civilizados" do Brasil adentravam o norte do País em busca de levar o "progresso" para esse interior um tanto desocupado.
O meu texto é um misto de indignação e surpresa. Indignação porque sou revoltado com tamanha mediocridade que perpassa os homens ao longo da história da humanidade. Em nome do "progresso" e desenvolvimento eles massacram e destroem culturas inteiras. Surpresa porque, mesmo os que detêm o poder e o conhecimento, na maioria das vezes, preferem continuar no marasmo do que fazer alguma coisa para mudar as situações.
Nova Xavantina nasceu à sombra da Expedição Roncador-Xingu. Tem hoje mais de 20 mil habitantes (segundo discurso local, há pouco mais de 60 anos era "só mato"). Acontece que, antes da Expedição existia, neste local, uma cultura e seres humanos semelhantes a nós que ocupavam, sustentavelmente, essas terras. Hoje, boa parte desse povo vivem as margens dessa sociedade "civilizada". São pedintes nas portas de comércios locais. Discriminados, andam como zumbis pelas ruas da cidade sem terem uma identidade própria. Não são Xavantes e não são xavantinenses.
Os acontecimentos desfilam sob os nossos olhos. As ruas da cidade são homenageadas com nomes dos grandes "heróis" que desbravaram a região trazendo "progresso" e a "civilização", enquanto que os nativos são expostos ao ridículo de amanhecerem às portas de panificadoras na esperança de ganhar uma sobra de alguma coisa.
O sol que brilhava para os Xavantes a pouco mais de 60 anos é o mesmo nos dias de hoje. A situação deles, no entanto, é bem diferente. Sua cultura foi prejudicada em nome de um "progresso" que elevam uns ao patamar de senhores e outros a submissão de servos.
Esse é apenas o primeiro ensaio de uma série de textos que estarei problematizando neste espaço. Leio a história e não pretendo ver o desfile dos acontecimentos e, mesmo assim, cruzar os braços.

Texto: Odair José.

Um comentário:

Anônimo disse...

...um autor, disse uma vez: "Quem domina o presente, reescreve o passado"...e, é assim que aprendemos nas estorias de nossos livros didaticos, esses "herois" da desumanidade, sendo chamados de desbravadores, pioneiros, etc. Ianques, que afortunaram se sob sangue alheio, e financiados p/ dinheiro publico...ainda bem, q existem pessoas q escrevem Historia, espero q um dia esses trabalhos sejam explorados no cotidiano de nossas Escolas...parabens p/ trabalho Odair José