Por
Odair José da Silva*
Em todos os lugares é possível vê-lo. Facilita a vida de quem o usa para todos os fins. Pagar contas, ver e-mails, avisar de um imprevisto e, até mesmo, passar tempo jogando. Este é o celular. Algo totalmente inimaginável há meio século. Acredito que nem mesmo Graham Bell poderia imaginar que o telefone poderia, um dia, chegar a esse patamar de utilização. O celular pode ser considerado o maior símbolo do avanço tecnológico que o mundo alcançou neste último século.
Falar de suas funções básicas não é o objetivo desse artigo. Muito pelo contrário. Saber que é um aparelho essencial para o ser humano é questão de lógica. Dificilmente alguém, nos dias de hoje, consegue viver sem um celular. Ele é prático e ajuda a encurtar as distâncias entre as pessoas. No entanto, ao mesmo tempo em que o aparelho possibilita essa aproximação ele distancia as pessoas. E é neste sentido que escrevo essas palavras.
As inúmeras reclamações que ouço, quase que diariamente, no ambiente escolar sobre o distanciamento dos alunos e suas consequentes alienações em relação aos conteúdos estudados me fizeram parar para pensar sobre o assunto. Na verdade, enfrentamos sérias dificuldades para que eles tenham atenção nos conteúdos. As mentes estão pensando nas novas mensagens que não param de chegar ao Whatsapp e Facebook. As informações são muitas e as mentes já não suportam processá-las a contento. O tempo torna-se curto e, não raramente, encontramo-los cansados porque ficaram até altas horas presos a essas novas tecnologias. O interesse pela matéria em si já não faz sentido.
Boa parcela da população jovem está acorrentada pelas redes sociais. Presas em seus casulos elas estão ligadas no mundo inteiro e não sabem o que acontece a sua volta. Um total paradoxo da vida contemporânea. Existe uma dominação dos eletrônicos na vida cotidiana da sociedade moderna. Pensar é um sacrilégio. Alguns estão em profunda dependência dos aplicativos instalados em seus celulares que já não conseguem passar mais de meia hora sem o aparelho. Uma síndrome terrível atinge sua alma e os deixa em estado catatônico.
Há um aprisionamento das pessoas patente aos nossos olhos. Fones de ouvidos os fazem esquecer o mundo a sua volta porque estão conectados nos últimos lançamentos. É fácil vermos as pessoas transitando pelas ruas com os olhos fixos nas telas dos celulares e os fones em seus ouvidos. Um perigo maior para quem dirige um carro e/ou pilota uma moto com o celular nas mãos. O mundo se tornou uma aldeia global com pequenas tribos em diferentes lugares. Na sala de aula, as preocupações dos alunos, e, em alguns casos, até mesmo de professores, são as trocas de mensagens. Os conteúdos explicados já não fazem sentido e as aulas tornam se maçantes na visão deles. Não raramente ouvimos deles as palavras sobre aulas interativas. Mas, na verdade, é difícil fazermos uma aula interativa sendo que o que os interessa são as mensagens no celular. Talvez as aulas interativas fossem deixá-los à vontade para usar o celular.
O conhecimento é algo essencial para a vida. Mas adquirir conhecimento é uma tarefa árdua. Não é fácil interpretar os grandes clássicos que construíram nossa sociedade. Muito mais difícil é fazer com que grande parte dos nossos jovens venha a se interessar por eles. Então, vemos com angústia as terríveis respostas para perguntas simples. Elaborar uma avaliação torna-se uma incógnita uma vez que não temos a certeza das respostas. O que vemos no final é uma enxurrada de respostas sem nexo para questões que necessitam apenas um pouco de reflexão. Um verdadeiro show de horrores.
Quando olhamos para o significado da palavra alienação descobrimos vários significados. Quero usar o psicológico. “Estado da pessoa que, tendo sido educada em condições sociais determinadas, se submete cegamente aos valores e instituições dadas, perdendo assim a consciência de seus verdadeiros problemas”. Parece-me que a sociedade não percebe os malefícios causados por essa alienação. O que será do nosso futuro? Celular: um grito de socorro!
*Odair José da Silva é Professor de História e Filosofia
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