Por Ellen Caroliny Alves de Lima
Quixote estudou a ideologia do Coaching incansavelmente durante três longos anos. Era uma válvula de escape para sua falta de sucesso: fingir que sabia como prosperar e levar outras pessoas a acreditar no mesmo. A esposa não aguentara sua obsessão pela Teoria da Justiça Econômica (coisa que ele mesmo havia inventado, e consistia basicamente na velha meritocracia) e o deixara. A filha não queira mais vê-lo, alegando que um pai ausente não merece respeito. Com a família inteira contra suas desilusões, seu amigo Sancho era o único que havia restado.
Todos os dias, em suas discussões cotidianas, na empresa de celulares em que trabalhavam, Quixote apresentava uma ideia utópica e dizia que sabia como derrotar o sistema. Sancho o ouvia, algumas vezes até concordava, mas o puxava para a realidade. "O sistema está aqui desde muito antes de existirmos, meu chapa" Sancho dizia, com cuidado para não magoar o fracassado amigo. "E é por isso mesmo que podemos derrotá-lo! Imagine, nunca antes estivemos tão conscientes de nossa própria situação precária. Podemos causar uma revolução!" Quixote insistia, dia após dia. Sancho o lembrava: "De certo, Quixote, mas onde estão os revolucionários? Mortos! Estão todos mortos". O coach fingia ouvir, mas continuava seus projetos secretamente.
Numa manhã nublada, Quixote decidiu agir. Juntou seus manuscritos e levou até uma editora. Mãos trêmulas, boca seca, caminhava em passos largos até o escritório do editor. Em uma semana, em cinco diferentes empresas, recebeu cinco "nãos". E lá se foi Quixote para o boteco, injuriado, lamentando-se a qualquer um que passasse. Era sua tragédia, sua aventura mal acabada. O amigo Sancho o encontrou. Precisavam estar na empresa às cinco no outro dia. Então Quixote percebeu o óbvio: estava preso no sistema que ele mesmo havia criado, iludindo-se, para fugir do sistema mundial.
Trabalho de Arte do 1º ano E.M.
Prof. Odair José.
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