Desde criança Henrique tivera a natureza “ruim” como era considerado por quem o conhecia. Fora expulso varias vezes de várias escolas. Brigava todo dia. Dessa forma ele cresceu na pequena cidade do interior. Depois de adulto mudou-se para a capital e começou a se envolver com o crime. Roubos, assaltos, drogas e prostituição. Até chegar no fundo do poço. Foi baleado em um assalto e, no hospital, depois de várias cirurgias, recebeu a noticia de que seus dias estavam contados. Sua morte era iminente.
Bianca era uma garota obediente. Desde criança fora educada nos principios cristãos e educada para uma vida de devoção. Cresceu ouvindo sobre ética e moral e sempre obedecera as doutrinas da igreja onde fazia parte. Muitas vezes deixou de ir em festas porque era considerada errada. Diversas oportunidades de fazer outras coisas ela não aceitava porque eram “incorretas” diante da moral que sempre aprendera a obedecer e viver. Casou com um jovem da igreja e viveu durante um bom tempo dentro dos padrões de conduta religioso e moral. Mas sempre foi tratada com falta de atenção e em segundo plano pelo marido que dava mais atenção a igreja do que a ela. Até que um dia ela foi “seduzida” por um outro homem e caiu na tentação. Dias depois sofreu um acidente e veio a óbito no local.
No hospital, Henrique ouviu um pastor ler a Bíblia para ele e, comovido, aceitou a palavra e se converteu. Dias depois veio a óbito. Cantaram no velório dele. Uma alma que foi salva pela Graça de Deus.
Bianca não pode ser velada na igreja onde sempre pertenceu porque os dogmas da mesma proibia fazer velorio de quem tinha sido excluída da igreja. Nas rodinhas o que mais se comentavam era do “deslize” da menina que sempre obedeceu as doutrinas, mas que não resistiu até o fim e foi levada pelo demônio.
Essas histórias são apenas ilustrações do que é a Predestinação de acordo com a ideologia calvinista e que, boa parte dos cristãos de hoje, seguem objetivamente. Alguns de forma clara e convicta de que é assim mesmo que funciona. Outros nem tão convictos mas que acabam acreditando que é dessa forma. Ou seja, para essas pessoas existem a predestinação. A pessoa já nasce com o destino traçado. Se é para ser salvo pode ser o maior marginal durante toda sua vida que no final vai acontecer alguma coisa e ele se arrepende e é salvo. Mas, se o seu destino é ser condenado, pode viver sua vida inteira santa que no final você vai cometer um pecado que te condenará ao inferno.
Não creio que seja dessa forma. Deus seria muito injusto se tratassem as pessoas como meros brinquedos. Creio sim que Deus sabe, na sua onisciência, tudo que vai acontecer com as pessoas, mas que existe o livre-arbítrio da pessoa e ele pode, sim, decidir pela sua vida. Creio que pessoas boas possam se tornar ruins no fim de sua vida assim como podem continuar sendo boas até o final. Também creio que pessoas ruins podem se regenerar durante a vida e, também, ser ruins até o fim. As oportunidades de serem boas estão patentes a todos.
Na minha compreensão as histórias acima podem ser melhor ilustrada na viagem de um navio. Vamos imaginar que Bianca entrou no navio no porto de origem rumo ao destino final. No meio do trajeto, no entanto, ela pula do navio e morre afogada. Henrique, por outro lado, nadava desesperadamente no mar até entrar no navio na última hora. O destino quis que fosse assim.
Dessa forma, finalizo minhas considerações afirmando que não creio ser dessa forma. Se assim fosse, seria muito injusto entrar na vida já com o destino traçado sem ter a chance de lutar pelo que queremos.
Odair José
Poeta e Escritor Cacerense
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