“Campo” e “cidade” são palavras muito poderosas, e isso não é de estranhar, se aquilatarmos o quanto elas representam
na vivência das comunidades humanas. [...] Na longa história das comunidades humanas, sempre esteve bem evidente essa
ligação entre a terra da qual todos nós, direta ou indiretamente, extraímos nossa subsistência, e as realizações da sociedade humana.
[...] Em torno das comunidades existentes, historicamente bastante variadas, cristalizaram-se e generalizaram-se atitudes
emocionais poderosas. O campo passou a ser associado a uma forma natural de vida – de paz, inocência e virtudes simples. À
cidade associou-se a ideia de centro de realizações – de saber, comunicações, luz. Também constelaram-se poderosas associações
negativas: a cidade como lugar de barulho, mundanidade e ambição; o campo como lugar de atraso, ignorância e limitação.
O contraste entre campo e cidade, enquanto formas de vida fundamentais, remonta à Antiguidade clássica. A realidade
histórica, porém, é surpreendentemente variada. A “forma de vida campestre” engloba as mais diversas práticas – de caçadores,
pastores, fazendeiros e empresários agroindustriais –, e sua organização varia da tribo ao feudo, do camponês e pequeno arrendatário
à comuna rural, dos latifúndios e plantations às grandes empresas agroindustriais capitalistas e fazendas estatais.
WILLIAMS, Raymond. O campo e a cidade: na história e na literatura. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 11.
Tela: Amolação interrompida, Almeida Júnior, 1894.
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