quarta-feira, 17 de junho de 2009

Um demônio ameaçador agachado do lado de fora da porta


A sombra da árvore foi o lugar de descanso que encontrei neste momento crucial de minha vida. Como poderia imaginar que tudo aconteceria tão repentinamente. Será que não pensei que poderia me meter nessa confusão terrível. O que faltou na minha oferta? Porque a oferta dele foi aceita e a minha não?
- Onde esta o seu irmão?
- Como vou saber? Por acaso sou eu o tutor de meu irmão? Deve estar cuidando de suas ovelhas.
Meus olhos se fecham por um instante e antevejo a minha morte. Possivelmente um de meus irmãos vai querer vingar a morte dele. Porque não entendi que havia um demônio ameaçador agachado do lado de fora da porta? Ou será que sou o demônio?
Começo a compreender que a oferta não poderia ter sido feita de qualquer maneira. Deveria ter percebido que teria que ser uma oferta de sangue. Eu poderia ter trocado meus produtos por uma ovelha e tê-la oferecido como sacrifício. Não! Eu sou agricultor e Ele poderia muito bem ter aceitado a minha oferta. Escolhi as melhores frutas e verduras. Porque Ele não aceitou isso? Deve ser porque gostava mais mesmo dele do que de mim. Também, sempre fiz o que achava que tinha que fazer. Esse negócio de ficar obedecendo isso ou aquilo não é pra mim.
- O que você fez?
Droga de pergunta. O que eu fiz? Acho que fiz uma besteira sem tamanho na história. Porque ele não brigou comigo? Se tivesse reagido talvez eu não o tivesse matado. Lembro-me como foi.
Crescemos juntos. O que nos diferenciou foi o que escolhemos para as nossas vidas. Claro que fomos obrigados a trabalhar. Isso foi o castigo que meu pai conseguiu junto com minha mãe. Que herança! Pois bem, a partir do momento em que tínhamos que trabalhar, envolvi-me com a agricultura. Criei uma lavoura de inúmeras frutas e verduras. Ele optou por criar ovelhas. Tudo caminhava bem até aquele dia. O dia da oferta. Fui a minha propriedade e escolhi algumas frutas e verduras. Claro que não me preocupei em escolher, peguei as primeiras que encontrei e as ofereci. Até achei ridículo o trabalho que meu irmão teve ao ficar selecionando as ovelhas. Levou quase o dia todo escolhendo, olhando se não estava com algum defeito ou mancha. Pra que tudo isso? Perguntei-me.
Já era tarde do dia quando colocamos nossas ofertas no altar. Notei que a fumaça do altar dele subiu ao céu ao passo que a do meu altar ficou parada envolto do mesmo. Porque isso se o vento era o mesmo. Porque não agradaste da minha oferta? Isso me deixou injuriado. Fiquei muito magoado com essa situação.
_ Por que anda tão bravo?
Ainda me pergunta isso? Estou bravo com essa situação. O que ele fez de diferente? Por que não agradou da minha oferta? Por que a fumaça do meu altar não subiu ao céu? Isso me deixou irritado.
_ Por que o seu semblante está carregado?
Não consigo conter a minha ira. O meu coração não pensa em outra coisa que não seja um meio de tirar ele do meu caminho. Preciso fazer alguma coisa.
_ Não precisa ficar com raiva. Se você tivesse feito o que é certo, estaria sorrindo; mas você agiu mal, e por isso o pecado está na porta, a sua espera. A intenção dele é dominar você, mas cabe a você vencê-lo.
Dominar? Parece fácil. Mas não consigo controlar a raiva que tenho dessa situação. E isso precisa ter um fim. Foi pensando assim que o chamei para a minha lavoura. Enquanto caminhava com ele, mostrei-lhe algumas frutas e perguntei-lhe:
_ Por que você acha que Ele não agradou da minha oferta? Veja que frutas bonitas, e foi exatamente dessas que ofereci no altar.
_ Lembra das roupas que nossos pais fizeram assim que descobriram que estavam pelados no jardim?
_ Sim. O que elas têm haver com a nossa situação?
_ As roupas eram feitas de folhas e Ele as trocou por pele de um animal que foi sacrificado para aquele fim. Você poderia ter deduzido desse fato que o sacrifício deve conter o sangue. Isso deve ter algum significado que não sabemos agora.
Minha ira atingiu o ponto máximo. Segurava uma clava na mão e acertei a cabeça dele. Foi uma só e ele caiu estirado no chão. Uma poça de sangue logo se formou em volta da sua cabeça. Por uns instantes fiquei olhando aquele corpo ali estendido e uma mistura de alivio e revolta percorria meus pensamentos. Ali mesmo cavei um buraco e o enterrei.
_ Por que você fez isso?
Não tenho resposta para essa pergunta nem mesmo se eu quisesse. Fiz o que achei que tinha que ser feito. Acho que nasci para isso.
_ Da terra, o sangue do seu irmão está gritando, pedindo vingança. Por isso você será amaldiçoado e não poderá mais cultivar a terra. Pois, quando você matou o seu irmão, a terra abriu a boca e para beber o sangue dele. Quando você preparar a terra para plantar, ela não produzirá nada. Você vai andar pelo mundo sempre fugindo. Mesmo debaixo dessa árvore não encontro descanso. E o pior é que, com esse sinal, ninguém vai querer me matar.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Sepultura Larga


Ouvi uma música antiga que gostaria de compartilhar com os leitores desse blog. A letra da música, apesar de ser antiga, reflete uma reflexão dos dias atuais.


A estrada da vida é um palco

Onde as cenas são todas reais

Muitos gozam e outros padecem

Resgatando seus erros fatais

São pessoas igual a criança

Que ainda não sabe o que faz

Que aquilo que não alcança

Quando alcança já não quer mais

Vejam bem quanto homem que casa

E ao lar ele nunca se apega

Abandona a esposa por outra

Mas acaba levando uma esfrega

Ele esquece que alguém tá de boca

Na esposa que ele venera

Pois mulher e alça de caixão

Quando um larga tem outro que pega

Também tem a mulher sem juízo

Que seu lar ela não considera

O amor, o respeito, a decência

Isso tudo pra ela já era

Ela esquece que todo marido

Quando ama, respeita e venera

A riqueza maior para ele

É o carinho da mulher sincera

Também tem o que só por preguiça

Um brilhante futuro empalha

Depois fica tramando da sorte

E dizendo que a vida é amarga

E se esquece que tem muita gente

Que trabalha qual burro de carga

Mas prefere uma vida apertada

Do que uma sepultura larga


Música de Sulino e Marrueiro.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

O Viajante


Sou viajante neste mundo e não um hóspede dele.
Nesse sentido, a vida que caminho diz respeito ao que penso
e faço enquanto passo por esta vida.
O que levarei de tudo que vi e que ainda vou ver?
O que deixarei para a posteridade?
Como viajante não tenho parada fixa.
Minha caminhada não termina quando o sol se põe.
Ela continua durante a noite escura.
Mesmo naquelas em que o brilho da lua não aparece.
Viajante que contempla
O que o mundo estabelece como vida e sonhos.
Viajante que vive a magia do amor
Mesmo sem saber definí-lo.
Viajante que acaba de passar por este espaço

Mas que segue firme sua jornada!


Poema: Odair


Obs: Esses poemas estão expostos no site http://www.worldartfriends.com/

Obrigado pela visita.