quarta-feira, 4 de julho de 2018

Carta sobre a felicidade


Epicuro envia suas saudações a Meneceu 

Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda não chegou ou que já passou a hora de ser feliz. Desse modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao velho: para quem está envelhecendo sentir-se rejuvenescer através da grata recordação das coisas que já se foram, e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das coisas que estão por vir; é necessário, portanto, cuidar das coisas que trazem a felicidade, já que, estando esta presente, tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la. Pratica e cultiva então aqueles ensinamentos que sempre te transmiti, na certeza de que eles constituem os elementos fundamentais para uma vida feliz.

Em primeiro lugar, considerando a divindade como um ente imortal e bem aventurado, como sugere a percepção comum de divindade, não atribuas a ela nada que seja incompatível com a sua imortalidade, nem inadequado à sua bem-aventurança; pensa a respeito dela tudo que for capaz de conservar-lhe felicidade e imortalidade. Os deuses de fato existem e é evidente o conhecimento que temos deles; já a imagem que deles faz a maioria das pessoas, essa não existe: as pessoas não costumam preservar a noção que têm dos deuses, ímpio não é quem rejeita os deuses em que a maioria crê, mas sim quem atribui aos deuses os falsos juízos dessa maioria. Com efeito, os juízos do povo a respeito dos deuses não se baseiam em noções inatas, mas em opiniões falsas. Daí a crença de que eles causam os maiores malefícios aos maus e os maiores benefícios aos bons. Irmanados pelas suas próprias virtudes, eles só aceitam a convivência com os seus semelhantes e consideram estranho tudo que seja diferente deles.

Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência clara de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efémera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de imortalidade. Não existe nada de terrível na vida para quem está perfeitamente convencido de que não há nada de terrível em deixar de viver. É tolo portanto quem diz ter medo da morte, não porque a chegada desta lhe trará sofrimento, mas porque o aflige a própria espera: aquilo que não nos perturba quando presente não deveria afligir-nos enquanto está sendo esperado. Então, o mais terrível de todos os males, a morte, não significa nada para nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos, nem para os mortos, já que para aqueles ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. E, no entanto, a maioria das pessoas ora foge da morte como se fosse o maior dos males, ora a deseja como descanso dos males da vida.

O sábio, porém, nem desdenha viver, nem teme deixar de viver; para ele, viver não é um fardo e não-viver não é um mal. Assim como opta pela comida mais saborosa e não pela mais abundante, do mesmo modo ele colhe os doces frutos de um tempo bem vivido, ainda que breve. Quem aconselha o jovem a viver bem e o velho a morrer bem não passa de um tolo, não só pelo que a vida tem de agradável para ambos, mas também porque se deve ter exatamente o mesmo cuidado em honestamente viver e em honestamente morrer. Mas pior ainda é aquele que diz: bom seria não ter nascido, mas, uma vez nascido, transpor o mais depressa possível as portas do Hades. Se ele diz isso com plena convicção, por que não se vai desta vida? Pois é livre para fazê-lo, se for esse realmente seu desejo; mas se o disse por brincadeira, foi um frívolo em falar de coisas que brincadeira não admitem.

Nunca devemos nos esquecer de que o futuro não é nem totalmente nosso, nem totalmente não-nosso, para não sermos obrigados a esperá-lo como se estivesse por vir com toda a certeza, nem nos desesperarmos como se não estivesse por vir jamais. Consideremos também que, dentre os desejos, há os que são naturais e os que são inúteis; dentre os naturais, há uns que são necessários e outros, apenas naturais; dentre os necessários, há alguns que são fundamentais para a felicidade, outros, para o bem-estar corporal, outros, ainda, para a própria vida. E o conhecimento seguro dos desejos leva a direcionar toda escolha e toda recusa para a saúde do corpo e para a serenidade do espírito, visto que esta é a finalidade da vida feliz: em razão desse fim praticamos todas as nossas ações, para nos afastarmos da dor e do medo.

Uma vez que tenhamos atingido esse estado, toda a tempestade da alma se aplaca, e o ser vivo, não tendo que ir em busca de algo que lhe falta, nem procurar outra coisa a não ser o bem da alma e do corpo, estará satisfeito. De fato, só sentimos necessidade do prazer quando sofremos pela sua ausência; ao contrário, quando não sofremos, essa necessidade não se faz sentir. É por essa razão que afirmamos que o prazer é o início e o fim de uma vida feliz. Com efeito, nós o identificamos como o bem primeiro e inerente ao ser humano, em razão dele praticamos toda escolha e toda recusa, e a ele chegamos escolhendo todo bem de acordo com a distinção entre prazer e dor.

Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles nos advêm efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo. Portanto, todo prazer constitui um bem por sua própria natureza; não obstante isso, nem todos são escolhidos; do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser sempre evitadas.

Convém, portanto, avaliar todos os prazeres e sofrimentos de acordo com o critério dos benefícios e dos danos. Há ocasiões em que utilizamos um bem como se fosse um mal e, ao contrário, um mal como se fosse um bem. Consideramos ainda a auto-suficiência um grande bem; não que devamos nos satisfazer com pouco, mas para nos contentarmos com esse pouco caso não tenhamos o muito, honestamente convencidos de que desfrutam melhor a abundância os que menos dependem dela; tudo o que é natural é fácil de conseguir; difícil é tudo o que é inútil. Os alimentos mais simples proporcionam o mesmo prazer que as iguarias mais requintadas, desde que se remova a dor provocada pela falta: pão e água produzem o prazer mais profundo quando ingeridos por quem deles necessita.

Habituar-se às coisas simples, a um modo de vida não luxuoso, portanto, não só é conveniente para a saúde, como ainda proporciona ao homem os meios para enfrentar corajosamente as adversidades da vida: nos períodos em que conseguimos levar uma existência rica, predispõe o nosso ânimo para melhor aproveitá-la, e nos prepara para enfrentar sem temor as vicissitudes da sorte. Quando então dizemos que o fim último é o prazer, não nos referimos aos prazeres dos intemperantes ou aos que consistem no gozo dos sentidos, como acreditam certas pessoas que ignoram o nosso pensamento, ou não concordam com ele, ou o interpretam erroneamente, mas ao prazer que é ausência de sofrimentos físicos e de perturbações da alma.

Não são, pois, bebidas nem banquetes contínuos, nem a posse de mulheres e rapazes, nem o sabor dos peixes ou das outras iguarias de urna mesa farta que tomam doce uma vida, mas um exame cuidadoso que investigue as causas de toda escolha e de toda rejeição e que remova as opiniões falsas em virtude das quais uma imensa perturbação toma conta dos espíritos. De todas essas coisas, a prudência é o princípio e o supremo bem, razão pela qual ela é mais preciosa do que a própria filosofia; é dela que originaram todas as demais virtudes; é ela que nos ensina que não existe vida feliz sem prudência, beleza e justiça, e que não existe prudência, beleza e justiça sem felicidade. Porque as virtudes estão intimamente ligadas à felicidade, e a felicidade é inseparável delas.

Na tua opinião, será que pode existir alguém mais feliz do que o sábio, que tem um juízo reverente acerca dos deuses, que se comporta de modo absolutamente indiferente perante a morte, que bem compreende a finalidade da natureza, que discerne que o bem supremo está nas coisas simples e fáceis de obter, e que o mal supremo ou dura pouco, ou só nos causa sofrimentos leves? Que nega o destino, apresentado por alguns como o senhor de tudo, já que as coisas acontecem ou por necessidade, ou por acaso, ou por vontade nossa; e que a necessidade é incoercível, o acaso, instável, enquanto nossa vontade é livre, razão pela qual nos acompanhara a censura e o louvor?

Mais vale aceitar o mito dos deuses, do que ser escravo do destino dos naturalistas: o mito pelo menos nos oferece a esperança do perdão dos deuses através das homenagens que lhes prestamos, ao passo que o destino é uma necessidade inexorável. Entendendo que a sorte não é uma divindade, como a maioria das pessoas acredita (pois um deus não faz nada ao acaso), nem algo incerto, o sábio não crê que ela proporcione aos homens nenhum bem ou nenhum mal que sejam fundamentais para uma vida feliz, mas, sim, que dela pode surgir o início de grandes bens e de grandes males. A seu ver, é preferível ser desafortunado e sábio, a ser afortunado e tolo; na prática, é melhor que um bom projeto não chegue a bom termo, do que chegue a ter êxito um projeto mau.

Medita, pois, todas estas coisas e muitas outras a elas congêneres, dia e noite, contigo mesmo e com teus semelhantes, e nunca mais te sentirás perturbado, quer acordado, quer dormindo, mas viverás como um deus entre os homens. Porque não se assemelha absolutamente a um mortal o homem que vive entre bens imortais.

Tradução baseada na edição de Arrighetti. Epicuro. Opere. Torino, 1973.

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Mostra Pedagógica 2018 - Colégio Q. I


Em ano de Copa do Mundo, nada como abordar o esporte mais popular do mundo: o Futebol. Essa foi a proposta da equipe pedagógica do Colégio Q. I para a Mostra Pedagógica de 2018.

Sabedores que a mostra seria no auge dos jogos da Copa do Mundo na Rússia, todos os professores do Fundamental II e Ensino Médio escolheram temas relacionado com a cultura do Futebol, a Culinária dos países envolvidos na Copa, os grandes cientistas russos, os gênios da música e dança do Brasil, experimentos científicos e claro, muito futebol com a história do esporte mais popular do Mundo, a criação de maquetes dos estádios e as histórias dos mesmos.

O público que prestigiou o evento contribuiu muito para o sucesso da mostra e os alunos mostraram o comprometimento e dedicação para a apresentação. Todas equipe da Direção e Coordenação, juntamente com os professores e alunos estão de parabéns pela excelente apresentação.

Texto: Prof. Odair
Fotos: Prof. Odair

 Turma do 8º ano - Orientados pela Professora Paula e Professor Odair















 Turma do 9º ano



 Turma do 7º ano

 Público prestigiando a Mostra

 Turma do 1º ano E.M





 Turma do 6º ano

 Coordenadora Sandra e Diretora Alzira







 Público presente







D. Alzira e Sandra

 Turma do 3º Ano E.M















 Turma do 2º Ano E.M




sábado, 19 de maio de 2018

Sombras de Goya - Resenha


Por Alessa Caixeta

O tema do filme Sombras de Goya vai muito além de retratar a vida do famoso pintor espanhol Francisco Goya, e mostra os abusos da Santa Inquisição, uma vez que esta estava empenhada em conter os ideias iluministas assim como a reforma protestante. Dessa forma, o diretor e o roteirista foram capazes de ilustrar claramente como foi o período antecedente a Revolução Francesa e também os seus desdobramentos, através de cenas marcantes como a prisão na Igreja, a invasão da Espanha pela tropa napoleônica e sua expulsão pela Inglaterra. Nesse contexto, é possível depreender da obra de que maneira as ideias revolucionárias do filósofos iluministas foram difundidas na sociedade vigente.

O longa-metragem deixa explícito todos os acontecimentos da história, possibilitando ao interlocutor total compreensão de seus elementos. Sob tal ótica, o que se torna mais atrativo no filme são as cenas de estrupo, guerras e julgamentos completamente análogas a realidade. Seguindo essa linha de pensamento, quando a musa do pintor, Inês é presa pela Inquisição, esse não mede esforços para ajudá-la, e consequentemente desencadeia uma série de repercussões não previstas ao demais personagens. Outrossim, aquele que mostra-se um mal caráter não é nada mais, nada menos que um membro da Igreja, o Frei Lorenzo, haja vista que ao decorrer do drama revela-se apenas mais um hipócrita fundamentalista que no final sofre uma reviravolta inesperada. A pobre Inês, injustiçada, consegue cativar o coração do público com sua inocência e ingenuidade.

Os tons de cores usados para gravar o filme dão a sensação de nostalgia, passado e foram muito bem utilizados, ademais a trilha sonora que foi habilmente usada para enfatizar as os elementos. As cenas são em sua maioria fieis a concretude, embora algumas estejam bem exageradas, a exemplo quando Inês sai da prisão ou encontra em um bordel aquilo que mais deseja.. Em suma, a obra conta vários períodos da história, abusos da Inquisição, Revolução Francesa, queda de Napoleão, fuga do rei espanhol, a vida de Goya, entre outros. Os produtores buscam não apenas relatar um fato isolado, mas contextualizá-lo no tempo e espaço ocorrido e pode ser usado em salas de aula a fim de promover debates filosóficos acerca do Iluminismo e aumentar a concepção dos alunos.

Resenha: Alessa Caixeta (Aluna do 3º ano CEAF)
Orientador: Prof. Odair José - Professor de Filosofia

quarta-feira, 21 de março de 2018

Representação do Oráculo de Delfos


Na aula de Filosofia realizada hoje (19/03) fizemos uma representação de como era o Oráculo de Delfos na Grécia Antiga o qual denominamos de Oráculo do CEAF.

A turma do 1 ano E.M foi dividida em 3 equipes: as oráculos, moças que faziam as previsões; os seguranças do local e os cidadãos que buscavam as previsões das oráculos. Para se obter a oportunidade de ser atendidas pelos oráculos era preciso responder aos enigmas.

Parabéns a toda equipe CEAF pelo empenho e dedicação ao projeto e a todos os alunos envolvidos.

Prof. Odair José