quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A mulher não é fruta nem flor


Um texto que merece reflexão...


Estamos na época das mulheres-fruta. Nunca se associou tanto a mulher às frutas como agora. O ser humano tem uma necessidade premente de se satisfazer de alguma forma, mesmo que isto seja estranho, anormal e até ridículo. E ninguém melhor do que certas mulheres para resolver este problema nutricional. Frutas, legumes e verduras são alimentos básicos para qualquer pessoa em qualquer situação, daí a associação desses alimentos às mulheres. Comer, na linguagem comum é muito mais do que alimentar: é uma metáfora, uma palavra com duplo sentido que pode significar muita coisa. E isto acaba se tornando um hábito no dia a dia.

O homem, cheio de criatividade, inventa suas histórias, suas brincadeiras e sempre a mulher está presente neste linguajar comum e rasteiro que ouvimos por aí. As músicas, as danças, as piadas sempre envolvem esta criatura extremamente importante a quem devemos a vida. Quanta brincadeira de mau gosto, quanto desrespeito nas rodinhas de amigos comentando nuances da vida alheia em qua a figura sublime da mulher é o "prato do dia". Os meios de comunicação, em geral, divulgam com vivo interesse essas histórias, anedotas e gozações. Tudo feito com muito bom humor e sarcasmo - e muita gente fatura alto em cima disto.

Hoje, muitas músicas são ridículas: não têm nenhum conteúdo útil, são apenas movimentos, danças e apelações. Ninguém sabe a letra da música e nem precisa saber - a órdem é requebrar fazendo insinuações e "usando" a mulher como motivo de chacota. Todo tipo de insinuação é válido, não há limites para este desatino, para esta anomalia. Depois do "tapinha não dói" veio a "eguinha pocotó" e agora é a "dança do créu". Qual será a próxima invenção? Cada vez, mais pessoas aderem a esse tipo de música que é cheia de movimentos corporais e vazia de qualquer sentido ou conteúdo. Sem dúvida, não há nenhum senso crítico - o que há é uma loucura coletiva que não obedece a nenhuma regra ou limite. A mulher está presente nesse ritmo como vocalista ou dançarina e principalmente nas letras pobres, horríveis e de duplo sentido.

Estamos na época da colheita das mulheres-fruta. Laranja, abacaxi, melão, melancia, banana, jaca, jabuticaba, manga, maçã, pera...Têm frutas para todos os gostos. Isto seria até romântico não fosse o desrespeito na forma em que a mulher é vista e tratada. Houve um tempo em que a mulher era representada por flores ou elementos da natureza; agora ela é fruta que é comida, chupada e depois jogada no lixo. E a fruta do momento, ou melhor, a mulher do momento é a garota-melancia. Ela está em alta, porém como sempre acontece, ela será degustada e depois terá como destino a lata de lixo.

A mulher, com certeza, merece muito mais do que este triste e humilhante destino. É preciso respeitar mais a mulher, entretanto é necessário que ela também faça a sua parte e se dê ao respeito como convém.


Cícero Alvernaz.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Sobre Violência Infantil



O olhar de tristeza rompeu a noite de alegria dos moradores da vila.


Durante dias os maradores haviam preparado as festividades para comemorarem o início das chuvas que possibilitavam o plantio das sementes. Aquele ano foi atípico porque as chuvas demoraram cair. Então quando se formaram as primeiras chuvas e os anciões afirmaram que eram nuvens de chuvas toda a comunidade se regozijou.


Quando cairam as primeiras chuvas toda a comunidade agradeceu aos deuses pela ajuda divina e se prepararam para fazer o plantio das sementes. Durante aquele dia os homens prepararam os festejos da festa enquanto as mulheres preparavam as bebidas. Alguns porcos eram assados numa grande fogueira acesa no pátio da vila. Quando os tambores estavam em ponto serem tocados um dos anciões viu a menina chegando.


Seus olhos pequenos e inocentes refletiam o terror. Um medo assustador pairavam sobre o seu rosto mostrando que coisas terríveis aconteceram com ela. Rapidamente o ancião aproximou-se dela e a segurou pelo braço com ternura. Sua linda criança havia sido cruelmente violentada. Com os olhos em um misto de compaixão e revolta indagou a pequena o que tinha acontecido com ela e quem tinha feito tamanha barbaridade. Os olhos cheios de lágrimas da pequena levantou-se e começou a procurar o seu agressor. Todas as pessoas da comunidade agora estavam ao redor da menina. O ancião tentava, ao acompanhar o olhar da pequena, decifrar o enigma. Não foi possível descobrir. Assustada a menina não delatou o seu agressor. O ancião sabia que ele estava entre eles e que mais cedo ou mais tarde descobriria quem roubou a inocência da pequena flor.

Esta história é uma ficção, mas que tem muita semelhança com a vida real. Estou na campanha contra a violência infantil.

Texto: Odair José.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Acontecimentos da Vida


Vou contar uma história de minha vida que aconteceu no ano de 1988 quando tinha 14 anos de idade. Esse relato faz parte da minha autobiografia que estou escrevendo à algum tempo. O tempo cronológico aqui não é fundamental. Conforme vou me lembrando dos detalhes vou repassando. Nós morávamos em Lambari, (que naquela época ainda era distrito de Rio Branco). Meus pais eram separados, eu e meu irmão morávamos com meu pai. Como acontece, meu pai tinha que trabalhar para sustentar-nos, uma vez que ele fazia o papel de pai e mãe ao mesmo tempo.

Meu irmão, márcio, na época estava com 10 anos. Foi uma fase ruim que aconteceu em nossas vidas mas que me ajudou a crescer como homem que sou. Com a separação, meu pai teve muitos altos e baixos. Tinha época em que ele estava com muito dinheiro, outras épocas não tinha nada. Erámos muito inconstantes em relação a parte financeira. Pois nesse ano as coisas não estavam boas. Foi então que meu pai conseguiu um emprego para trabalhar em uma fazenda próximo ao Panorama, um vilarejo que existia entre Lambari e Rio Branco, cerca de uns 10 Km da primeira cidade.

Fomos para a fazenda e meu pai preferiu trabalhar primeiro para receber. Creio que na época ele fez o que achava certo. Se fosse eu hoje faria diferente. Não tínhamos nada para comer a não ser arroz. Foi um período de vacas magras mesmo. Na fazenda (na verdade, uma pequena fazendinha encravada entre outras) tinha uma casa de madeira onde ficamos. O trabalho de meu pai era gradiar a terra e plantar braquiara (capim para pasto). Durante alguns dias ficamos nessa labuta na fazenda.

Sabe quando você não tem nada mas mesmo assim é feliz? Pois bem, posso afirmar isso desse período. Eu corria na terra arada nos finais de tarde olhando o pôr-do-sol e imaginando o que seria da minha vida quando ficasse adulto. Sempre fui um sonhador. Desde pequeno as histórias de aventuras me fascinavam. Eu imaginava vários cenários para a minha vida futura.

Lá foi onde eu dirigi pela primeira vez. Sim foi um tratorzinho Valmet, se não me engado, 65. Uma tarde enquanto jogava a semente na terra arada meu pai me chamou e mandou que eu subisse no trator e o observasse. Ele deu uma volta no terreno onde gradiava naquela tarde e quando deu a volta completa ele parou, desceu do trator e falou:

_ Agora é com você.

Claro que fiz um zigue-zague nas primeiras voltas mais consegui dirigir e gradiar. Depois disso trabalhei com Trator grande de todas as marca, desde Valmet até o CBT. Inclusive até com Motocana.

No entanto, a vida ali naqueles dias não era uma maravilha. Conforme os dias iam passando, o arroz puro, as vezes com mandioca, não sustentava. Não sei quantos dias exatos passamos ali, mas creio que mais de 20 dias foram. Um dia, acho que era um sábado de manhã estava com meu irmão, sei lá, acho que brincando, quando observamos um mangueiral que tinha cerca de uns 2.000 metros de distãncia. Não sei o que, mais alguma coisa nos instigou air lá. Claro que já tínhamos visto aquele pomar várias vezes, mas tínhamos receio de cachorros ou de pessoas ruins. Quem vai saber. Como que combinássemos caminhamos até lá. Era uma casa onde morava um pessoal e que nos deu algumas coisas como laranja, ovos e...inesquecível, um queijo!

Eu nunca mais comi um queijo tão gostoso como aquele. Saboroso. Sabe quando você coloca um queijo frito com arroz? Uma delicia.

Aquelas pessoas naquele dia foi como uma salvação para nós. Não esqueço jamais, mesmo não sabendo quem são. Acho que dias depois o dono da fazenda apareceu por lá com uma compra que meu pai tinha pedido, mas aquele queijo...

Pois bem, na fazenda tinha um riacho que passava bem no fundo do quintal da casa. Dois fatos curiosos aconteceu nesse período ali...os quais contarei em breve. Não percam os próximos capítulos!!!
Texto: Odair José.

domingo, 19 de outubro de 2008

Religião e Política


Engraçado como vivemos em um mundo hipócrita mesmo. Fiquei admirado vendo os comentários de alguns "religiosos" do Brasil em oposição a um projeto de lei que tramita no congresso nacional.

O PL 2623/2007 é, de fato, polêmico por que atinge o orgulho de religiosos no Brasil. Segundo o projeto é preciso alterar a nomenclatura de "padroeira dos brasileiros" e deixar apenas "padroeira dos católicos". Claro que os católicos se arrepiaram logo, logo. Andei vendo alguns dos comentários e críticas das principais redes de comunicação do Brasil. O que eu não concordo é quando dizem que o deputado está errado. Tem uns que até questionam o fato de o autor do PL ser professor. Pois eu venho aqui, defender algumas idéias com relação a esse fato:

Primeiro. Considero o autor do PL um homem de caráter. O Professor Victório Galli Filho foi meu professor de Teologia e, antes de chegar ao Congresso ele já defendia essa visão. O que concordo com ele. Não se pode denominar uma "padroeira" para a nação uma vez que nem todos compartilham com essa idéia.

O Brasil foi colonizado, de fato, pelos católicos, aprendeu a alfabetização pelos jesuítas e se considera a maior nação católica do mundo. Acontece que aqui também vieram os holandeses e ensinaram o protestantismo na época da colônia. A partir do início dos anos 1910 o Brasil recebeu uma leva de missionários protestantes que disseminaram uma nova religião. O fato concluso é que, a cada ano, o catolicismo perde grande parte dos seus fiéis. Sem contar que boa parte dos que se dizem católicos, nunca foram em uma igreja. Não estou aqui combatendo religião. Estou revelando dados e mostrando a História.

Segundo: O PL do Professor Victório é apenas para que mude a denominação. Ou seja, para aqueles que crêem na santa, ela continuará sendo a padroeira deles. Para aqueles que não crêem e nem compartilha com a idéia (como eu) as coisas continuam normais. Não vejo polêmica no PL. Acontece que pessoas fanáticas acham que o PL atinge os seus princípios e questionam...Por que não questionaram os outros projetos do Deputado. Aliás, ele tem outros projetos bastante interessante. O que deveriam fazer é acompanhar o que o seu representante faz no Parlamento. Sim, eu votei em Victório Galli Filho e fico feliz em ver que ele está fazendo alguma coisa. Acompanho os seus projetos e estou vendo que o meu voto não foi jogado fora.

Para finalizar, quero deixar bem claro que respeito toda forma de religião apesar de não concordar com nenhuma. Assim como afirmou Marx, dizendo que a religião era o ópio do povo na época dele, creio que continua sendo a cocaína do povo. Religião nunca salvou ninguém, não salva e, ao longo dos tempos, é a causa de todos os conflitos na Terra. Felipe II da Espanha confiava no catolicismo para derrotar Elizabeth da Inglaterra porque ela era protestante e considerada bastarda. Suas naus, (a maior da época) sucumbiram próximo a ilha da Bretanha. Deus era protestante e apoiava Elizabeth? Não. Creio que ele combateu o prepotente Felipe II.


Texto: Odair José.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Dominação


Neste espaço quero parodiar uma canção antiga que, creio fazer sentido neste momento. Ao longo da trajetória humana em estabelecer verdades e planejamento de melhora o que vemos é a caminhada rumo aos mesmos procedimentos. Existe um cinismo que tenta nos enganar do decorrer do dia-a-dia, confesso que estou cansado disso. O regime das oferendas capitalista está levando ao abismo e eu não quero ser parte integrante desse crime. Durante o Regime Militar instaurado no Brasil nos anos 60 e 70 houve uma série de atos institucionais que foi o cúmulo da incompetência. O mesmo acontece nos dias de hoje onde vemos atos insanos acontecerem a todo instante. Esses atos acabam revelando as margens do incerto. As paródias e falação dos políticos que prometem, prometem e nada fazem continua a fazer parte da cultura brasileira. E acreditamos. Eles falam e não vemos nada de novo acontecer. O povo caminha para a grande falência!
O grito de guerra é esse...
Não aborte os seus ideais
No ventre da covardia
Vá a luta empunhando a verdade
Que a liberdade não é utopia!
As pessoas querem se esconder e ninguém ousa desafiar o sistema. Os camuflados e os samaritanos levam-nos a fatalidade. Ignoram o holocausto da fome, das crianças abandonadas a própria sorte nas ruas das grandes cidades tiram do futuro a prioridade, isto é, o sonho de uma vida digna em um país mais justo. Os trabalhadores, cada vez mais sugados e escravizados pelo sistema não conhece os lucros pois esses não são repassados a eles. Acontece que se entrarmos nesse jogo político seremos, de fato, síndicos dessa massa falida.
Não aborte os seus ideais.
Existe uma vontade imensa de setores da sociedade em combater essa mediocridade tão corrosiva. Pessoas que pensam em liberdade de vida como eu. Pessoas que querem mudar o rumo da nação. Junte-se a nós: Solte o grito de guerra. Vamos lutar contra esse sistema cruel e sanguinolento...Os seus ideais é a base para a vitória contra a dominação capitalista e a liberdade não é utopia.

Texto: Odair José.

Fonte: Música: Massa Falida - Duduca e Dalvam.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Professor


Olhando pela janela tentando contemplar aquela que iria me orientar... Me falaram tanto dela... Olhos claros sob um óculos fino em um rosto de anjo, A visão que me ensinaram a esperar. A turma anterior tinha afirmado que ela era uma excelente professora. No meu primeiro dia de aula fiquei imaginando como seria. Na escola a maioria era professoras. A turma, assim como eu, estavam todos ansiosos. Afinal, era o primeiro dia de aula. Derrepente ouvimos os passos. Um pouco diferente dos passos macios que os colegas nos informaram... Um jovem senhor adentrou a sala sob o olhar de surpresa de toda turma. - Bom dia turminha!











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O tempo passou, Hoje sou um professor. Vida nada fácil. Enquanto a maioria das pessoas estão dormindo ele está lendo, pesquisando e se informando para que sua aula seja proveitosa. O que importa é que, no futuro, possa ajudar alguns dos alunos em sua trajetória de vida! Todos os profissionais da vida passa diante de um professor. Até Alexandre, O Grande, para conquistar o mundo de sua época passou pela orientação de Aristóteles. O que acontece é que boa parte deles (dos profissionais) quando alcança seu status esquecem de seus mestres. Se lembrassem, os professores não precisariam de todo ano estarem reivindicando uma melhora em seus ganhos.

Texto: Odair José.

domingo, 12 de outubro de 2008

As Ruínas - Um Breve Comentário Sobre o Filme!


No último bimestre tenho trabalhado a história dos povos pré-colombianos com a turma da 6ª série na disciplina de História. É um dos assuntos que mais gosto dentro da disciplina de História. Dentre os povos pré-colombianos falamos muito sobre os Maias e seus rituais que os pesquisadores, até hoje, tentam desvendar. Dentre as minhas pesquisas deparei-me com a sinopse do filme As Ruínas, produção que chegou aos cinemas neste ano de 2008. Li muito sobre a crítica do filme e os comentários das pessoas que o assistiu. Observei os prós e contras do filme. Então, resolvi assísti-lo para ter as minhas conclusões. O gênero de terror não me fascina muito, apesar que achei o filme nem tanto assim de terror, mas gosto de ver quando acho o tema interessante. Neste ano três títulos me chamaram a atenção: Fim dos Tempos, O Nevoeiro e As Ruínas, dos quais já assisti os dois últimos.

As Ruínas não é o que esperava ser. Dão pouca ênfase a cultura maia e não explicam o porque das plantas serem assassinas. O que dá vida as plantas? Sacrifícios humanos? Esperava que pudessem dar uma maior visualizada no que foi a civilização maia.

No entanto, nem tudo é ruim no filme. Com ele é possível perceber, mais uma vez, a ideologia americana de que "não vão deixar que quatro americanos morram num lugar desses". O mesmo discurso encontramos nos "Turistas" que têm os seus orgãos arrancados em uma floresta brasileira e nos jovens presos em algum país do Leste Europeu no filme "O Albergue". Outra coisa é a questão das coisas precárias que esses filmes tentam passar...isto é, sempre mostram as coisas mais feias nos países de terceiro mundo. Mas isso é ideologia.

O filme, no meu ponto de vista, é um bom texto para discussão uma vez que nos oferece respaldo para questionarmos uma infinidade de argumentos ideológicos.
Texto: Odair José.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A Ordem do Discurso n'A Vila


O objetivo deste texto é fazer uma análise do filme A Vila, longa metragem, produzida em 2004. Segundo a sinopse do filme No final do século XIX existia uma vila cercada por florestas em todos os lados. Os habitantes de lá fizeram um pacto para nunca saírem da vila, pois na cidade reinava a violência e o medo. O que eles almejavam era a criação da sociedade perfeita. Funcionando como contraponto à tranqüilidade da vila, há as criaturas, ou "aquelas-de-quem-não-falamos", seres aterrorizantes que vivem nessas florestas. Entre os habitantes e as criaturas há um acordo muito simples: ninguém invade o território de ninguém.
O filme se passa na zona rural da Pensilvânia em 1987, e conta a história de um pequeno vilarejo de Covington, com a pequena população de 60 pessoas, rodeada por uma floresta onde se acredita haver criaturas míticas habitando o lugar. A história ainda conta o romance de Kitty, a filha do líder do vilarejo e de Lucius, um jovem rapaz. Os dirigentes da cidade possuem uma política de restrição bem forte: todos são proibidos de adentrar a floresta, ou seja, todos os habitantes da vila viveram toda a sua existência isolados do restante do mundo, já que ninguém do exterior pode entrar lá também. Há um monte de postos de vigia, que servem tanto para afugentar as criaturas como para se certificarem de que ninguém tente fugir da vila. Entretanto, o vilarejo começa a ser ameaçado quando Lucius começa a questionar sobre o confinamento completo das pessoas de lá.
Alguns pontos podem ser problematizados sobre esse filme. Partimos da identificação da visão de mundo e da cultura dos habitantes da vila. O que percebemos no filme é que as pessoas têm uma visão sobre a natureza. Existe um medo em colocar as mãos em flores vermelhas porque aquela é a cor daqueles-que-não-falamos. Os habitantes da vila também têm os seus rituais com relação ao casamento e a escolha do noivo e da noiva. A filha do patriarca, por exemplo, pede permissão para namorar o jovem Lucius porque está apaixonada por ele mesmo sabendo que quem deveria casar com ele era sua irmã. Outra coisa é com relação à visão deles sobre a morte. Em que esfera eles temem a morte? O que fazer diante dos acontecimentos que desenrolam na vila? O medo é constantemente presente na vida deles. Durante o casamento enquanto estão festejando e o sino toca um medo terrível cai sobre eles e cada um procura o seu refúgio.
No filme encontramos a questão da deficiência. A jovem Ivy, por exemplo, é cega. Da mesma forma, Noah Percy parece um doente da cabeça. Observando esses deficientes é possível estabelecer uma reflexão sobre as formas de integração social deles na sociedade da vila. A moça tem uma paz de espírito surpreendente e, mesmo sendo cega, parece enxergar melhor do que os outros. Noah, por outro lado, é obcecado por Ivy e ao ver ela nos braços de Lucius comete uma loucura, talvez até sem pensar.
A sociedade da vila é um bom motivo para reflexão. Identificamos os valores morais que sustentam essa sociedade. Na vila existem algumas regras que são seguidas ao pé da risca. Por exemplo, não se pode entrar na floresta. A partir do momento em que alguém entra na floresta os habitantes da floresta poderão atacar a vila. Essa regra é obedecida mais por medo do que por obediência mesmo. Não é possível perceber, a não ser no final, que existe um discurso que mantêm as pessoas longe da floresta. O discurso é o medo. As pessoas mais jovens e que nasceram na vila, não conhecem a cidade e a civilização, vive sob um manto escuro de um segredo que a todo o momento perpassa pelo filme.
Mas como diz o ditado, regras são feitas para serem quebradas, chega um momento em que não é possível mais manter as aparências. Notamos isso quando o jovem Lucius, esfaqueado por Noah está às portas da morte. Ivy, sem pensar duas vezes solicita do conselho que a deixe ir até a cidade buscar remédios. A partir do momento que ela sai em direção à cidade parece que o segredo vai ser revelado. O fato que acontece a seguir acaba confirmando o segredo para sempre. O que era uma montagem para prender as pessoas na vila acaba sendo confirmado a partir do momento em que Noah se transforma no monstro em que eles imaginavam existir na floresta.O filme nos faz questionar o porquê das pessoas acreditarem na vida em que levam. Os anciãos da cidade têm os seus segredos, as suas revoltas por terem perdidos seus entes queridos na cidade e tentam levar uma vida diferente na vila. No entanto, para manter os jovens ali é preciso sustentar uma inverdade. As razões que levam Ivy e Noah encenarem o jogo infantil que resulta na morte de Noah é a razão que pode perpetuar o discurso de não invasão da floresta. Ao voltar com os remédios, Ivy é uma sobrevivente e só sobreviveu por causa do amor. É isso que o filme nos repassa no final.

A análise do filme A Vila, longa metragem, produzida em 2004 pode ser pensada no contexto de “A Ordem do Discurso” , obra de Michel Foucault. podemos problematizar as ideologias que encontramos no filme repassando nas aulas de História. O cinema possibilita ao professor uma gama de recursos para se trabalhar o cotidiano das pessoas. O filme A Vila tem um discurso que envolve os personagens principais e que podem ser problematizadas dentro da perspectiva do livro de Michael Foucault onde destacamos o poder que envolve um discurso. Alguns pontos podem ser problematizados sobre esse filme. Partimos da identificação da visão de mundo e da cultura dos habitantes da vila. A sociedade da vila é um bom motivo para reflexão. Identificamos os valores morais que sustentam essa sociedade. Na vila existem algumas regras que são seguidas sem questionamentos. O filme nos faz questionar o porquê das pessoas acreditarem na vida em que levam. Os anciãos da cidade têm os seus segredos, as suas revoltas por terem perdidos seus entes queridos na cidade e tentam levar uma vida diferente na vila. Foucault, num esboço histórico, afirma que, durante os primeiros séculos da civilização ocidental, verdadeiro era aquele discurso que era proferido pelo indivíduo habilitado, ou seja, a verdade pertencia àquele que era autorizado a dizer a verdade. Na Vila, os anciões assumem esse papel.


Texto: Odair José.