terça-feira, 15 de julho de 2008

ÚLTIMOS DIAS DE CÁCERES - PARTE IV


Era um sorriso amarelo. Totalmente sem graça mesmo.

Os olhos estavam vermelhos. A droga injetada no corpo fazia efeito. Pareciam olhos de demônios. O semblante era de tormento. De alguém que há dias não se alimentava. Parou sobre os escombros e percorreu as ruínas com aquele olhar de coiote. Precisava encontrar algo para se alimentar. Não era de uma estatura muito grande mas mantinha um corpo atlético. As roupas estavam rasgadas e sujas.

O sol surgia no horizonte perdido. Fumaças ainda ofuscavam a visão de quem tentava ver o que realmente havia acontecido na cidade. Destroços espalhados por todos os lados denunciavam o tamanho da destruição. O homem sabia que pouca gente, ou quase nenhuma pessoa teria sobrevivido àquela maldita explosão. Lembrava de pouca coisa que fazia quando foram surpreendidos com o estrondo.

Caminhou um pouco por entre os restos de carros, bicicletas e prédios despedaçados por todas as partes. Via pedaços de pessoas e o mau cheiro já atraia um bando de urubus que rondavam o céu da cidade.

Deparou-se com os destroços do Supermercado Juba. Encontrou algumas latas de sardinhas, salsichas e outros enlatados. Abriu uma delas e começou a se alimentar. Notou que havia uma mistura imensa de produtos de supermercado, Dvds e roupas misturadas com pessoas. Pensou no que as pessoas estavam fazendo na hora da explosão. Comprando no supermercado, escolhendo um filme para assistir ou experimentando uma roupa. O que era a vida?

Estava terminando de comer a sardinha quando ouviu um barulho de vozes. Olhou para os lados. Levantou-se. Foi quando ele avistou as duas garotas. Pareciam perdidas. Uma era branca e a outra um pouco mais morena. Pelo olhar dele viu-se um pouco de malícia. Gritou e as garotas olharam para ele. Elas caminhavam sem rumo definido e pararam assim que ouviu o grito do homem. Por um instante elas olharam para ele com atenção. Um misto de desconfiança e receio se apoderou delas. O que fazer numa situação dessas. As pessoas todas mortas a sua volta e um ser totalmente assustador a sua frente. Uma olhou para a outra esperando uma solução para o impasse.

- O que foi garotas? – disse o homem – não vai me dizer que depois de tudo o que aconteceu ainda está com medo de mais alguma coisa ruim acontecer? Venham se alimentar.

Elas olharam em volta e viram os destroços do supermercado espalhados por todos os lados. Mesmo receosas elas se aproximaram do homem. Um mistério envolvia aquele personagem.

Texto: Odair José.

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